Eça de Queiroz,
no jornal O Distrito de Évora, nº14, em 24 de Fevereiro de 1867:
" Há tempos o Campeão das Províncias publicou um comunicado sobre as desordens do Liceu de Évora. Não trazia nome
por baixo que legalizasse aquelas acusações violentas; desenhava ali uma confusão terrível no Liceu, pouca instrução, falta de frequência, pouco respeito pelos professores, desmoralização dos alunos, etc. Segundo aquele áspero
escrito, o Liceu era uma pequena Babilónia imoral, corrupta, pecadora e de irremediável podridão. O mesmo senhor que dizia isto olhava com santa beatitude para a Casa Pia, e só via ali sossego, harmonia, felicidade, boa
administração, uma espécie de paraíso, onde só há repouso e louvores de graças. Depois voltava a olhar para o Liceu, com ar profético de desesperança e desdém. Hoje recebemos dois comunicados, excelente e lucidamente
escritos, de duas pessoas respeitáveis, que, tomando nas suas mãos a questão, a deixam tão clara, tão limpa e tão pura, tão séria como a própria verdade.
Publicamo-los juntamente para dar maior robustez à opinião comum, reforçando-a com as opiniões individuais. Nós desejamos que a verdade se apure, e que fiquem ilibadas todas as honras, e desvanecidos todos os maus conceitos.
É possível que haja no liceu irregularidades: não costumam estes estabelecimentos, pelas suas condições especiais de existência, ser aqueles onde há mais harmonia, mais sossego, mais administração; cremos todavia que as
acusações do comunicado do Campeão eram excessivas e apaixonadas. Pela verdade das maravilhas que se contavam da Casa Pia, se pode avaliar a verdade dos horrores que se contavam do Liceu. Repetimos, o nosso grande desejo é ver
terminada a questão, por este esclarecimento da verdade feita por tão belas inteligências e tão rectas consciências. Nós teremos as nossas páginas abertas e cordiais para os que quiserem discutir nobremente a questão.
Ficaremos vendo, reservando o nosso juízo, aplaudindo só uma coisa - a justiça, defendendo só uma coisa - a honra. "
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