Envelhecemos cada vez mais cedo

 

A Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia da Senhora da Saúde apresentou, recentemente, uma candidatura para a criação de um centro de desenvolvimento social integrado para suporte físico e de aglutinação de sinergias e intercâmbios intergeracionais valorizadores do papel social dos mais velhos. A candidatura foi formulada pela Associação de Freguesias do Concelho de Évora e articula-se com o Programa de Luta Contra a Pobreza, “Viver na Cidade”. Mira da Silva, presidente da Associação, fala-nos do projecto e das linhas mestras traçadas para o futuro.

 

“Antigamente, para se ser reformado era preciso atingir os 65 anos. Agora, no rol dos inactivos, no qual se agrupam os reformados, pensionistas e idosos entram pessoas que ainda não perfizeram 50 anos. Esta é uma situação delicada que carece de novas respostas por parte da sociedade criando condições para que as pessoas possam viver bem e pensar menos nas doenças e nos males de que padecem ou vêm a padecer”. Quem o diz é Mira da Silva, presidente da Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Senhora da Saúde que apresentou há pouco uma candidatura para a construção de um Centro de Dia/Serviço de Apoio Domiciliário de novo tipo. O projecto concebido pela Associação de Freguesias do Concelho de Évora foi candidatado ao III Quadro Comunitário de Apoio.

Além desta nova realidade que, com o figurino da pré-reforma, antecipa a passagem de pessoas cada vez mais novas para a inactividade, a Freguesia da Senhora da Saúde debate-se com o problema do envelhecimento da população. Dos cerca de 11 500 habitantes, 30 por cento correspondem a idosos com mais de 75 anos, o que confirma a tendência para um envelhecimento acentuado da comunidade local.

Dado que a diversidade de problemas sociais implica uma acção integrada, o centro de dia/serviço de apoio domiciliário foi concebido como um projecto de desenvolvimento de competências sociais, fortificando em si os componentes fundamentais para o ajustamento intergeracional, para o aprofundamento do sentido de comunidade, para que o indivíduo  possa ter grupos de integração e de partilha.

O projecto, sob a forma de centro de desenvolvimento social integrado, apresenta um conjunto de respostas através das quais perspectiva contribuir para a criação de estruturas e equipamentos sociais de apoio a idosos, pensionistas e reformados, sem esquecer pessoas ou grupos em situação de risco ou com carências sociais. Procura também proporcionar meios e formas de actuação e intervenção dos utentes, na resolução de problemas específicos identificados que promovam a optimização das suas capacidades e competências, premiando o espírito de integração social.

 

Equipamentos sociais

São insuficientes

 

A tomada de consciência da insuficiência de estruturas e equipamentos sociais na freguesia afirma-se como pressuposto fundamental do projecto, que pretende actuar no combate à exclusão dos idosos através da interacção comunitária, na minoração dos efeitos perturbadores do envelhecimento psicomotor, na funcionalidade do espaço e no apoio técnico especializado à população alvo.

O centro de desenvolvimento social integrado, quando concluído, compreende um centro de dia com valências que vão desde a cozinha, refeitório, gabinete médico, sala de convívio, instalações sanitárias, lavandaria e ainda as vertentes de transporte de pessoas com dificuldades de locomoção, promoção de intercâmbios e oportunidades sócio-culturais, como espectáculos, exposições, conferências, entre muitos outros e ainda serviço de apoio social. Contando, à partida, com 30 utentes, o centro de dia está dimensionado para, em situações pontuais, comportar bastante mais pessoas. Por intermédio do serviço domiciliário destaca-se o apoio a nível alimentar, higiene doméstica e individual, apoio e aconselhamento médico, serviços de lavandaria e a prestação de serviços aproveitando as capacidades e saberes dos utentes do centro, nas áreas da canalização, electricidade, carpintaria, reparação de estores, entre outros. Nesta modalidade destaca-se ainda um centro de noite deambulatório para atender às necessidades nocturnas da população alvo, de modo a dar cobertura total às carências dos utentes do centro e de outros grupos de risco. O serviço de apoio domiciliário deverá abranger, inicialmente, 50 pessoas.

A natureza integrada do equipamento social proposto enquadra-se e articula-se com os pressupostos da Comissão Social de Freguesia da Senhora da Saúde e do Conselho Local de Acção Social (CLASE) reforçando a necessidade de uma acção concertada entre os diversos parceiros sociais. Destaca-se ainda a intervenção da Câmara Municipal que preside ao CLASE, da Associação de Freguesias e da Junta da Senhora da Saúde que, em articulação com muitos outros parceiros, entre os quais a Segurança Social, deram corpo ao projecto “Viver na Cidade”, integrado no Programa de Luta Contra a Pobreza. Este é um dos instrumentos ao qual se vai interligar o centro de desenvolvimento social integrado.

Estimular o espírito de participação dos agentes locais na estruturação de um plano de acção social eficaz é uma das metas através da qual se pretende promover o intercâmbio intergeracional, integrando e valorizando o papel social do idoso.

 

Interligar vida

E experiência

 

“Os idosos têm o valor da experiência em muitas áreas que é interessante partilhar com os mais novos” afirma Mira da Silva numa alusão à necessidade de um contacto mais estreito com as escolas. E adianta: “reforçar esta ligação enriquece a terceira idade com a vida e a alegria dos jovens e estes tiram proveito da experiência, dos conselhos e da maturidade dos idosos. Há aqui um campo muito vasto que é importante explorar”.

Mas nem só de idosos é feita a Associação. “Além do que estes têm para dar, há pessoas na casa dos 50 anos que, em situação de pré-reforma, estão ainda em idade considerada activa. Mira da Silva sublinha que, “por estarmos integrados no mercado comum, dadas as suas características e velocidades, há áreas muito importantes da vida que são descuradas. Uma delas é a social. Em função de toda a evolução verificada e dos novos parâmetros que comporta, as pessoas são empurradas cada vez mais cedo para a reforma. Isto é muito delicado. Daí a nossa preocupação em dar vida aos nossos associados estimulando a sua ocupação em áreas de que gostem e em que sejam úteis à sociedade”.

“Ciclos de actividade” é como o presidente da Associação de Reformados, Pensionistas e idosos denomina as várias acções que projecta realizar. Entre outras conta-se “a organização de conferências, de passeios, de intercâmbios, de contactos com os mais novos de modo a mantermos sempre ritmo e acção para atrair e cativar os associados”.

Com cerca de 600 associados, a Associação de Reformados, Pensionistas e Idosos da Freguesia da Senhora da Saúde foi criada oficialmente a 3 de Novembro de 2000. Mas, data de 15 de Maio de 1999 a eleição da comissão instaladora saída de um plenário de idosos determinados em avançar com um projecto mais ambicioso. Mira da Silva, um dos seus principais impulsionadores, fala das dificuldades sentidas. “Foi difícil juntar as pessoas para a comissão. É que estas nomeações são cansativas e exigem um espírito de sacrifício que nem toda a gente está disposta a fazer. Outras vezes acham que não estão à altura das responsabilidades que isso acarreta, embora o mais importante seja a boa vontade de quem participa”.

 

Estimular a

solidariedade

 

Além do sacrifício é preciso também um grande espírito de solidariedade, segundo adianta Mira da Silva. Tendo isto presente, a Associação foi classificada em Agosto de 2000 como IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social). Por essa via também, o seu presidente, numa das petições divulgadas para angariação de sócios apelou à solidariedade, que resultou numa significativa adesão de pessoas. “Esta é uma qualidade que se está a perder. Nós temos a obrigação de estimular a prática da solidariedade entre as pessoas”, referiu.

Enquanto cria as bases para uma estrutura em que a solidariedade, a partilha e a intervenção na vida da comunidade se destacam como pontes fortes, a Associação vai funcionando na casa de cada um dos membros da direcção. Sem condições para outras acções, promove actividades maioritariamente recreativas e culturais. “O que não quer dizer que quando um associado tem um problema concreto nós não tentemos ajudar. Solicitámos à Segurança Social a oferta de uma carrinha que poremos ao dispor dos associados para dinamizar as actividades recreativas, sociais e culturais, para deslocações identificadas com questões de saúde ou para transporte e serviços de grande necessidade”, adiantou o representante da Associação.