Escolas da Senhora da Saúde valorizam ensino/aprendizagem

   

“Novidade” é o nome do projecto apresentado ao Programa Ser Criança pela Escola EB 2,3 André de Resende, na Freguesia da Senhora da Saúde em Évora. A formulação do projecto tem como propósito envolver o maior número de parceiros para resolução dos problemas no espaço escolar que assentam em problemáticas sociais que os alunos trazem de casa. Ao ser aplicado no Agrupamento de Escolas que este estabelecimento de ensino integra como espaço sede, o projecto Novidade é virado, num primeiro nível, para os cerca de 450 alunos do 2º ciclo (público alvo) e, num segundo patamar, para os pais e encarregados de educação, bem como para os restantes alunos do agrupamento e a comunidade educativa em geral, num universo que ronda os cinco mil indivíduos. Maria José Silvestre, professora e coordenadora do projecto fala-nos do envolvimento, das motivações e das razões que estão na origem desta candidatura.

“Prevenção do abandono escolar precoce, do absentismo, da não escolarização e do insucesso, intervindo junto da globalidade da população escolar” são alguns dos objectivos do projecto apresentado no final do ano lectivo transacto pela Escola EB 2,3 André de Resende. Depois do parecer positivo dado pelas instâncias regionais, a escola aguarda com expectativa a aprovação deste “pilar fundamental para a rentabilização dos esforços já desenvolvidos com vista ao maior sucesso educativo de crianças e jovens em risco e à criação de projectos de vida que passem pela formação e pela aprendizagem”, sublinhou Maria José Silvestre, professora e coordenadora do projecto Novidade.

O projecto formulado, para efeitos de candidatura, pela Associação de Freguesias do Concelho de Évora ao Programa Ser Criança, vai ao encontro das respostas que esta estrutura associativa procura desenvolver em todas as freguesias do concelho, de forma integrada, mobilizando e envolvendo o maior número de parceiros. 

As preocupações da Associação conjugam-se, a este nível, com o trabalho há muito desenvolvido pela Escola EB 2,3 André de Resende quanto ao acompanhamento, despiste e encaminhamento das mais variadas situações das crianças e dos jovens. “Temos aqui problemas de absentismo e de insucesso escolar de meninos com problemas ligados a disfuncionalidades nas famílias, ao meio social de onde vêm, a faltas e carências em diversas áreas”, sublinhou Maria José Silvestre.

Situada na Freguesia da Senhora da Saúde, a Escola EB 2,3 André de Resende integra-se num aglomerado populacional muito heterogéneo e com graves problemas sociais. Desde níveis de pobreza bastante baixos, até famílias disfuncionais, marginalidade, são problemas que afectam o sucesso escolar e a concepção de projectos de vida positivos.

Por outro lado, adiantou a coordenadora do projecto “é comum esperar-se que a escola resolva sozinha situações que, só por si, não consegue enfrentar. Daí a necessidade do envolvimento activo de múltiplos parceiros que actuem em áreas tão diversas quanto complementares. Há casos em que é preciso fazer intervir alguns agentes do exterior da escola para que, depois, os reflexos aqui aconteçam. Daí o envolvimento já existente mas que é preciso reforçar, da Segurança Social, da Administração Regional de Saúde, da Escola de Enfermagem, do Centro de Formação Profissional, das autarquias, entre muitos outros”.

 

Formar para a vida

 

“Cada vez mais a escola é aberta a todos, é um serviço público que tem por objectivo o sucesso e a qualidade das aprendizagens. Não queremos só a escola de papel em que os meninos cá vêm aprender conhecimentos. É preciso fazer um atempado encaminhamento das crianças que dele necessitem e conseguir uma abertura diferente em relação ao mundo do trabalho e à vida lá fora. A escola tem de se adaptar e encontrar, dentro daquilo que são as suas funções, a forma de ajudar cada aluno e cada família a definir o seu projecto de vida. Um projecto de vida capaz, que promova a formação correspondente, pelo menos, à escolaridade mínima”, adiantou Maria José Silvestre.

“Como nós temos sido território educativo de intervenção prioritária, estas preocupações há muito que fazem parte do nosso projecto educativo. Com o projecto “Novidade” queríamos criar condições para a resolução de mais problemas e melhorar a qualidade da intervenção que temos estado a fazer””, adiantou a coordenadora do projecto.

Entre as metas a atingir destaca-se a valorização das aprendizagens de tipo erudito, estruturadas nos programas de ensino/aprendizagem e que serão potenciadas através das actividades de complemento curricular, não só em termos lúdicos, como formativos. Equipar e animar espaços, como a Biblioteca e o Polivalente, criando um programa anual de actividades diversificadas contínuas e pontuais. Aumentar os índices de utilização das novas tecnologias mediatizadas (vídeo, rádio, internet, TIC) de modo a valorizar e transformar em saber-escolar  os conhecimentos e as capacidades dos alunos nessas áreas. Promover a oferta de actividades estimulantes do desenvolvimento pessoal, social e da comunicação, nomeadamente, ateliers de pintura, modelagem, colagens, leitura, informática, jogos de mesa e de ar livre e expressão dramática. Melhorar o diagnóstico e a intervenção nos casos de absentismo e abandono e prestar apoio e aconselhamento às famílias das crianças em situações problemáticas.

 

Investigação/acção

 

Considerando que as crianças com insucesso escolar, absentismo ou abandono são, frequentemente, crianças com fracos laços de vinculação quer com professores, quer com outros alunos, as actividades propostas visam uma melhor inserção dos alunos em risco de abandono, na comunidade escolar, como meio de prevenção e simultaneamente, o acompanhamento das suas respectivas famílias. O acompanhamento das famílias procura aumentar as suas competências educativas, subir as expectativas face à escolarização dos filhos e a construção de projectos realistas e estruturados de estudos e carreiras profissionais.

A metodologia adoptada (investigação/acção), vai permitir o conhecimento da realidade sobre a qual se pretende intervir e a adequação permanente dos objectivos e estratégias. O espaço escolar, rentabilizado através de adaptações que permitam uma optimização da sua utilização e a sua vivência quotidiana de forma personalizada, será sentido pelos alunos como espaço de crescimento psico-sócio-cultural e de realização pessoal. A formação contínua dos professores envolvidos no projecto também será considerada como meio de capacitar a escola para as solicitações que a mudança permanente exige.

Ao visar o envolvimento da comunidade educativa na resolução de problemas existentes e a optimização das actividades curriculares, o projecto Novidade foi concebido para dar maior expressão ao esforço desenvolvido pelo Agrupamento de Escolas. Ao integrar a Rede de Escolas Promotoras de Saúde, o Agrupamento criou um Gabinete de Atendimento a alunos apetrechado com muita informação sobre cuidados e higiene pessoais, vacinas, doenças, planeamento familiar...Acompanhado por enfermeiros e professores voluntários este espaço é muito procurado por alunos que ali vão conversar, aconselhar-se, ver vídeos sobre estas temáticas e, em muitas destas visitas, é feita a despistagem e encaminhamento de diversas situações que requerem cuidados especiais.

Por outro lado, Maria José Silvestre adiantou que “existe um grupo de trabalho que se constituiu como observatório das relações interpessoais para estudar as questões da indisciplina e do relacionamento entre os membros da comunidade educativa. Apesar da indisciplina existir em todas as escolas e, nas nossas, não nos parecer de extrema gravidade, nós queremos reduzir os índices existentes. Através de diagnósticos tipificamos as situações consideradas de indisciplina e depois fazemos formação de professores e de funcionários. Trabalhamos também com os alunos de modo a mitigar e resolver essas situações de conflito. A formação cívica do aluno também passa por aí. Pode ser uma das vias para resolver este tipo de problemas porque, o papel formativo da escola também tem de passar pela formação dos alunos no aspecto das relações sociais”, concluiu.

O Projecto “Novidade” que conta também com o apoio e empenho da Junta de Freguesia da Senhora da Saúde vai articular-se, caso seja aprovado, com o Programa de Luta Contra a Pobreza “Viver na Cidade” (já a ser dinamizado), alargando assim o espaço de intervenção social e o sucesso das acções.

 

 

 

CX:

Comunidade educativa aposta na escola como espaço de inovação

 

“Seria uma boa notícia para os nossos alunos se o projecto fosse aprovado. Há um grande esforço da nossa parte para que isso aconteça”, atestou a coordenadora do Projecto “Novidade”, Maria José Silvestre.

Com uma equipa de pessoal docente e não docente muito empenhada e voluntariosa, a Escola EB 2,3 André de Resende há muito que é território educativo de intervenção prioritária.

Das várias experiências que acumula e enriquece a intervenção daquela comunidade educativa, refere-se a experiência pedagógica que constituiu a Escola Cultural, para a implementação da qual a escola foi seleccionada em 1987/88. No ano lectivo 1990/91 foi escolhida para a aplicação experimental dos novos Planos Curriculares nos 5º e 7º anos, experiência que foi alargada nos anos seguintes aos demais anos curriculares.

Em 1991/92 começou a Associação de Escolas com o 1º ciclo registando-se desde aí um alargamento progressivo, quer das áreas abrangidas, quer da rede de escolas integradas. Em 1995/96 aderiu ao projecto para a Educação Multicultural e passou a integrar a rede de escolas PEPT (escola para todos), agora substituído pelo programa Alfa.

Em 1996/97 tornou-se na escola sede do Território Educativo de Intervenção Prioritária integrando o pré-escolar para além das escolas do 1º ciclo. A partir de 1997/98 integra na sua oferta formativa algumas turmas de “Currículos Alternativos” de modo a encontrar respostas pré-profissionalizantes capazes de potenciar as relações escola – vida activa.

Em 1998/99, face ao novo modelo de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos escolares, constituiu-se como Agrupamento (de que é sede), composto por esta EB 2,3, por quatro escolas do 1º ciclo e dois jardins de infância. No passado ano lectivo o Agrupamento de Escolas integrou a Rede de Escolas Promotoras de Saúde. Foi ainda criado no mesmo ano lectivo, um observatório das relações interpessoais e do clima relacional na escola, tendo dado início ao trabalho de diagnóstico e caracterização e de formação de docentes sobre “Indisciplina na Escola”, pela metodologia de investigação/acção.  

“Há aqui um bom grupo de docentes e não docentes com pessoas muito interessadas, muito empenhadas e que têm lutado muito para o sucesso educativo, (não só o sucesso escolar). Cada vez mais vejo pessoas interessadas em mais acções e projectos para melhorar os espaços, as capacidades de resposta da escola e acompanhar os alunos para que  criem perspectivas de vida valorizadoras da formação e da aprendizagem”, adiantou Maria José Silvestre.