N.
Sr. da Tourega
Tourega.
Orago: N.ª Sr.ª da Assunção. Dista 13 Km da sede do conc., e está situada
na margem esquerda da ribeira de Valverde.
A arqueologia já antigamente conhecida (por exemplo, no séc. XVI) do território
desta Freguesia Não permite dúvidas sobre a antiguidade do povoamento local que
remonta aos tempos pré-históricos.
A mais notável arqueologia local é a da época romana. Esta dispôs aqui de
um notável centro balnear, a julgar da referida arqueologia. O facto não
surpreende devido à grande proximidade da romanizada Ebora pré-romana.
Mas a pré-romanidade está também muito documentada, através das construções
dolménicas da Mitra e de Valverde. Aquelas são as notáveis antas do
Barrocal.
O pároco desta freguesia, de 1758, na sua notável memória original, refere
que não afastadas da igreja paroquial existiam então ainda as ruínas de
edifícios conhecidas pela designação de «as Martas», as quais «mostram
que foram antigamente lagos ou tanques de banhos que usavam os romanos,
porquanto a sua forma é de tanques grandes e pequenos».
Outros restos da romanização local eram, ainda, nesse tempo, colunas e
inscrições.
O manuscrito de 1736, faz notáveis referências também às antiguidades
encorporadas na igreja ou cerca dela: «Defronte da porta principal da igreja,
debaixo do alpendre, está uma pedra que dizem se desenterrou neste mesmo sítio:
é de mármore, em forma de sepultura, e bem moldada, com a inscrição em
letras romanas ou latinas, e dela faz menção o padre Mestre Resende», sendo
essa inscrição, - a mesma já referida -, a seguinte: DMS (Consagração aos
Deuses Manes) ao alto, e , à esquerda: Q. IVL. MAXIMO. C.V / QVESTORI. PROV.
SICI / LIAE. TRIB. PELB. LEG / PROV. NARBONENS / GALLIAE. PRAET. DES / ANN.
XLVI / CALPVRINA. SABI / NA. MARITO. OPTIMO; e à direita, com o «tramus
lauri» de permeio: Q. IVL. CLARO. C. I. IIII. VIRO / VIARVM. CVRAN
DARVIM /ANN. XXI / Q. IVL. NEPOTIANO. C. I / IIII.
VIRO. VIARVM. CVRAN /ADRVM. ANN.
XX / CALP. SABINA, FILIIS. Significa a primeira: «Calpúrnia
Sabina (dedicou este monumento) ao seu óptimo marido Quinto Júlio Máximo,
varão muito ilustre, questor da província da Sicília, tributo da plebe,
governador da província da Narbonense, pretor eleito da Gálea, (falecido) de
46 anos»; e a segunda: «Calpúrnia Sabina (dedicou este monumento) aos seus
filhos Quinto Júlio Claro e Quinto Júlio Nepociano, jovens muito ilustres,
quartuórvirus intendentes das estradas (falecidos, um) de 21 (e o outro) de
20 anos».
A Tourega romana abrigou, pois, nos seus muros gente de grande importância
social, prova da sua própria notabilidade.
Ermida
de Santa Comba e Inonimata
A
cerca de 300 metros, no montículo que domina a testeira da mesma igreja
paroquial, para o lado nascente, existem as ruínas da capela de Santa
Comba e Inonimata, mártires do hagiólogo lusitano, que a tradição
sacrificou nestes sítios no ano 305 da era cristã, durante o governo pretor
Dacinao.
O abandono ao culto da ermidinha é já antigo.
O pequeno edifício, voltado ao Ocidente, apresenta afinidades barrocas e deve
remontar aos fins do séc. XVI ou primórdios do imediato. É todo de
alvenaria, com alpendre de três arcos de volta inteira e apresenta, no
frontispício, embebida na parede uma cruz, a caveira e duas tíbias:
sobrepujante, apenas, uma face do campanário, em silhueta de profundo
simbolismo.
A notícia manuscrita da
Freguesia, de 1736, descreve assim o velho templete:
É a ermida não mui
grande, tem porta para o Poente, e seu alpendre com três arcos, e sobre o
frontispício seu sino, duas janelas com grades de ferro nas ilhargas, ou lado
da porta, donde se vê o altar e a imagem da gloriosa Santa Comba, que é de
glória estofada de ouro, com seu diadema de prata, está em um nicho com uma
fina vidraça; o retábulo é de talha dourada, aos lados da Santa fica de bem
feita e fina pintura; à parte direita o Beato S. Jordão, bispo que foi de Évora,
e à esquerda Santa Anonimata, felicíssimas irmão de Anta Comba, tem os
lados do altar dois armários de madeira que lhe servem de credências, e
neles estão os ornamentos do altar, e os paramentos necessários para se
dizer missa, aos romeiros e devotos que correm: em todos os tempos do ano foi
frequentada esta romagem, hoje porém se acha muito diminuída.
Fonte
de Santa Comba

A 60 passos da ermida desta crismação, para a banda Norte e na vertente da
encosta, existe, o antigo poço onde, segundo a crença popular tombaram as
cabeças degoladas de Santa Comba e sua anónima irmã, brotando do local,
milagrosamente, a Fonte Santa, e a sua água passou a ser considerada
excelente para várias doenças, sobretudo as dos olhos. E assim se fixou, mas
citações de André de Resende e Jorge Cardoso, a famigerada Cova dos Mártires.
Sofreu diversas obras de preparação que muito a desfiguraram. No interior,
onde há vestígios de uma barroca engrinaldada de filetes, trabalhada a
estuque, viu ainda António Francisco Barata em 1880 esta inscrição: TEM
ESTA AGVA TAL / VERTVDE / QVE MATANDO DA / SAVDE / 1780.
Ruínas
Romanas

A duzentos passos da igreja paroquial, nas traseiras do Cemitério, em
terrenos lavrados a que o povo chama as Martas, ficam os restos de três
tanques de banhos, de planta rectangular, construídos por muros de argamassa
e beton, tendo o mais largo 24,5 m de comprido sobre 4,6 m, e os dois
mais estreitos 24,5 m de comprimento de 3,3 de largura cada.
Nota
histórica.
Nos princípios do séc. XVI instituiu a Mitra de Évora nas tranquilas terras
da ribeira de Valverde, uma Quinta e Paço para descanso e retiro espiritual
da câmara episcopal. Ignoramos se a ideia partiu de D. Afonso de Portugal
(1485-1522), filho do Marquês de Valença, se o último bispo, o ilustre
infante-cardeal D. Afonso, irmão de D. João III, finado em Abril de 1540.
É
evidente que já em 1514 (?) o local era habitado, porque, com a mesma data
existe na cerca da actual escola de Regentes Agrícolas, uma construção gótica,
certamente coetânea, do maior interesse arquitectural.
Em 1538, o mestre de obras Álvaro Anes, executava no Paço certa empreitada,
que lhe fora atribuída pelo mesmo prelado.
No ano de 1544 D. Henrique, cardeal-infante, primeiro arcebispo de Évora e
irmão do antecessor, fundou nas terras da Quinta, com portas adentro o
Convento da Ordem Capucha, a que deu o nome de BOM JESUS.