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CARACTERIZAÇÃO E PATRIMÓNIO
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Património |
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Igreja de S. Mamede |
A igreja de S. Mamede é uma das
igrejas paroquiais mais antigas de Évora, com existência
comprovada documentalmente desde o início do século XIV.
Porém, no século XIII, há já
referências documentais ao arrabalde de S. Mamede, sendo que
esta foi a primeira paróquia fora dos antigos muros da cidade,
apesar de muito próximo destes; situada a norte, numa zona
simultaneamente cristã e muçulmana, já que era a zona da
mouraria, demonstra o crescimento eborense ao longo da época
medieval.
O primitivo templo medieval sofreu completa remodelação no
reinado de D. João III, em meados do século XVI, perdendo a sua
feição gótica. Esta igreja apresenta uma tipologia
arquitectónica que alia elementos da arquitectura maneirista e
da arquitectura chã, como aliás ocorre frequentemente na
arquitectura portuguesa deste período.
Desconhecemos o autor do risco;
porém pela erudição de alguns elementos e desde logo pela galilé
que a antecede, de clara influência serliana, poderemos levantar
a hipótese de Diogo de Torralva, o melhor leitor de Serlio,
mestre das obras da comarca do Alentejo e paços de Évora, ter
sido o autor do risco.
A igreja apresenta uma planta
rectangular, de uma só nave e capela-mor; de ambos os lados da
capela-mor, rasgam-se capelas, de feição quadrada, cobertas por
cúpulas. A nave é coberta por abóbada polinervurada,
característica do tardo-gótico e muito presente ainda ao longo
do século XVI, na arquitectura alentejana.
Exteriormente, apresenta, como já
referido, um nartex, de mármores coloridos, maneirista; a
fachada é rematada, superiormente, por frontão triangular.
Lateralmente, a nave é amparada por contrafortes rectangulares,
apresentando da banda ocidental torre campanário modernizada.
Interiormente alberga um notável
conjunto de azulejaria seiscentista, bem como intensa pintura
mural barroca, a decorar a abóbada. O coro era também coberto
por pintura mural, que lamentavelmente se perdeu.
Tapetes azulejares, de grande
intensidade cromática e decorativa cobrem praticamente o
interior do templo, do rodapé até à cimalha; são utilizadas
composições de brutescos e de padrão, onde se destacam os de
maçaroca, de grande originalidade e raridade, pois ao invés do
que acontece frequentemente, utilizam o esmalte verde, bastante
mais raro na azulejaria portuguesa do século XVII.
A decoração do templo completa-se
com a pintura mural, decorativa de brutesco que reveste a
abóbada, datada de 1691, provavelmente ligada à oficina do
pintor eborense Lourenço Nunes Varela; muito ao gosto da época
dominam laçarias, arabescos, serafins, aves, flores, frutos,
máscaras que envolvem medalhões centrais ornamentados com o
Cálice, a Hóstia Sagrada, emblemas alusivos a S. Mamede, de
grande cenografia e cromatismo intenso.
O retábulo do altar-mor de mármores de vários tons é obra
tardia, já do período neoclássico.
Nos anexos deste templo, a Sala da
Confraria do Santíssimo Sacramento apresenta o conjunto talvez
mais interessante da azulejaria do templo, da autoria de Gabriel
del Barco, conforme confirmação de Paulo Valente. Revestindo
totalmente as paredes da sala, vários painéis figurativos azuis
e branco narram cenas bíblicas, destacando-se Moisés fazendo
brotar a água da rocha, ou o Filho Pródigo e o Regresso do Filho
Pródigo, de grande expressividade, rigor de desenho e variedade
de tons de cobalto, resultando num conjunto de grande
monumentalidade barroca.
Ana Maria Borges, 9/9/2008
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Inaugurado
a 28 de Março de 1537, o Aqueduto da Prata de Évora é uma das mais marcantes
obras efectuadas na cidade na primeira metade do século XVI. Foi construído em
escassos seis anos, sob direcção do arquitecto régio Francisco de Arruda, e
prolonga-se por cerca de 18Km, até à Herdade do Divor, onde vai abastecer.
Muito
provavelmente sobreposto ao antigo aqueduto romano, o carácter civil da
construção foi enobrecido por alguns troços de inegável impacto artístico e
urbanístico. Por exemplo, junto à igreja de São Francisco, existiu até 1873 o
Fecho Real do Aqueduto, um pórtico renascentista composto por "um torreão de
planta octogonal decorado por meias colunas toscanas e nichos emoldurados, de
vieiras nos arcos de meio ponto, tendo um corpo superior com lanternim de
aberturas do mesmo estilo, envolvido, na base, por umas piriformes" (ESPANCA,
1966). Também na Praça do Geraldo, onde o aqueduto terminava, existiu uma fonte
"adornada por leões de mármore" e associada a um arco de triunfo romano, ambos
posteriormente sacrificados aquando da remodelação henriquina da principal praça
da cidade e a fonte substituída pela actual fonte da Praça do Geraldo (ESPANCA,
1993, p.66).
Na Rua Nova
de Santiago, precisamente no local onde a cerca velha foi cortada, Francisco de
Arruda construíu uma Caixa de Água renascentista, de planta quadrangular e
actualmente com dois lados visíveis, com doze colunas toscanas e amplo
entablamento, obra que caracteriza o maior empenhamento artístico em algumas
zonas do aqueduto e que contrasta drasticamente com outras partes do traçado em
que o utilitarismo da construção sobrepôs-se a eventuais intenções mais
eruditas.
Ao longo
dos séculos o aqueduto da Prata sofreu algumas alterações entre acrescentos e
demolições. De maior visibilidade foram os vários chafarizes e fontes que se
implantaram ao longo do percurso citadino. Para além da terminação emblemática
na Praça do Geraldo junto ao antigo arco romano, é de realçar a Fonte do Chão
das Covas, obra datada de 1701. Do período de renovação urbanística patrocinada
pelo cardeal D. Henrique, subsiste também o Chafariz das Portas de Moura. Ainda
do século XVI, outros dois chafarizes foram construídos, respectivamente no
Largo da Porta Nova, uma obra que apresenta nítidas semelhanças para com os
desenhos de Afonso Álvares (arquitecto que construíu as fontes da Praça do
Geraldo e das Portas de Moura), e no antigo Rossio de São Brás, uma campanha que
data já de época filipina e que abrangeu ainda a edificação de uma ampla
alameda.
Parcialmente restaurado no século XVII, em consequência das guerras da
Restauração, o aqueduto foi objecto de sucessivas beneficiações durante os
séculos XIX e XX, não se alterando, contudo, a fisionomia geral inicial.
PAF
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Fonte do Largo de
Avis ou Fonte da Porta de Avis |
A Fonte da Porta
de Avis originalmente situada no Largo da Porta Nova, terá sido construída pela
vontade do cardeal-infante D. Henrique, em data posterior a 1573, durante o
reinado de D. Sebastião. Esta fonte é tradicionalmente atribuída ao arquitecto
Afonso Álvares, então conservador do cano da Água da Prata e autor do Chafariz
da Praça do Giraldo. No entanto, não será de afastar a possibilidade de
intervenção, ou mesmo de desenho, do seu assistente e mestre de pedraria, Mateus
Neto.
A construção
desta fonte insere-se na rede distribuidora do Aqueduto da Prata, tendo sido
edificada no âmbito no plano de D. Henrique, que visava modernizar as estruturas
de bastecimento de água à cidade, construídas no reinado de D. João III.
Em 1886 o
Município alterou a sua localização original, o que voltou a acontecer em 1920,
época em que foi transferida para o Terreiro da Porta de Avis, onde actualmente
se encontra. No entanto, estas sucessivas deslocações provocaram alguns
estragos, principalmente ao nível das proporções, agora mais diminuídas
(ESPANCA, Túlio, 1966). Assim, a taça apoia-se numa base quadrangular de três
degraus, a partir da qual se desenvolve a fonte em forma de pirâmide, com remate
ovalóide. Em 1965 a Câmara beneficiou a fonte, pelo que esta recuperou então a
distribuição da água através das gárgulas antropomórficas originais, em bronze.
(Rosário Carvalho) |
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Palácio dos Sepúlvedas |
No início
do século XVI, o fidalgo castelhano Diogo de Sepúlveda mandou erguer numa das
artérias principais de Évora, constituindo um acesso privilegiado à vila, um
palácio para residência da sua família, cujos descendentes habitaram até finais
do século. A estadia desta família em Évora, bem como o tipo de construção,
nobre e de grandes dimensões, do imóvel, são testemunho de um período marcado
por grande desenvolvimento económico e cultural da zona, quando naturalmente se
registou um surto construtivo marcante - acompanhando, por exemplo, as estadias
do rei D. Manuel na cidade. Da construção original restam as janelas manuelinas
da frontaria, voltada para a antiga Rua da Lagoa e para o fronteiro Convento do
Monte Calvário, bem como as salas abobadadas do piso térreo e da sacristia da
igreja, provavelmente antigas adegas ou cocheiras.
Das três
janelas, hoje entaipadas, apenas uma conserva a molduração intacta, em arco
trilobado no intradorso e contracurvado no extradorso, decorado com imaginária
vegetalista, mas sem peitoril. A segunda janela conserva a verga, formada por
dois arcos ultrapassados ou em ferradura, geminados, certamente assentes sobre
mainel, do qual não restam vestígios; ficaram no entanto os elegantes capiteis,
os remates e parte das ombreiras, e a terminação do extradorso, em arco
contracurvado terminando num cogulho. A terceira exibe apenas uma ombreira e
cerca de metade da verga, sugerindo troncos podados entrelaçados.
O conjunto
sofreu sucessivas alterações ao longo do tempo, principalmente maneiristas e
barrocas, uma vez que o edifício foi adaptado a colégio a partir de 1625, quando
o arcebispo D. José de Melo aí instala o Colégio de São Manços, instituído em
1592 e destinado a albergar donzelas desamparadas oriundas de famílias nobres -
motivo pelo qual o palácio foi também conhecido por Colégio das Donzelas. Deste
período subsiste a estrutura da igreja então erguida, templo de nave única, de
linhas muito sóbrias. Foram então adaptadas muitas salas, sendo as do piso
térreo transformadas em dormitórios.
O imóvel
foi vendido a um particular no século XIX, passando para a posse da família
Braancamp Reynolds; seguiu-se a sua ruína parcial, embora tenha logo em meados
do século começado a funcionar como fábrica, albergando uma máquina a vapor que
produziria sabão e aguardente, para além de funcionar como moagem de cereais e
azeitona. A esta primeira utilização industrial seguiram-se outras, como o
fabrico de pranchas e rolhas de cortiça, e - já nos anos 50 do século XX - a
actividade têxtil, ficando o edifício conhecido principalmente como "Fábrica da
Melka". Estas ocupações sucessivas desvirtuaram evidentemente as características
da maior parte do palácio, causando a destruição de valiosos elementos
estruturais e decorativos. Presentemente, o edifício encontra-se devoluto,
embora se considere a sua adaptação a unidade hoteleira.
SML
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Porta de
Aviz |
As
primeiras referências à Porta de Avis, rasgada num pano das muralhas de Évora,
remontam a 1381, data da fundação da Ermida de Nossa Senhora do Ó, conforme
referido por Túlio Espanca em 1966. Aquando da entrada triunfal de D. Catarina
da Aústria na cidade, em 1525, a porta foi parcialmente reconstruída e
remodelada. Trata-se de um elemento arquitectónico maneirista, de tipologia
militar, que se estrutura numa dupla arcaria de volta perfeita, sem apontamentos
decorativos, ladeada por duas pilastras de sustentação da arquitrave, e rematada
por frontão em gablete ornado de florões. O monumento é ladeado por um torreão
de planta rectangular, e pela já citada Ermida de Nossa Senhora do Ó, inscrita
na estrutura amuralhada.
Em 1804, a
Porta de Avis sofreu uma intervenção de restauro e consolidação, registada em
lápide comemorativa no friso:
NOVA PORTA
DE AVIZ/ ABERTA NO ANNO DA ESTERILIDADE DE 1804/ SENDO REGENTE DO REINO O
PRÍNCIPE D. JOÃO / PAI DESTES SEVS VASSALLOS PIEDOSO FILHO DE D. MARIA I / OS
CIDADAOS PVZERAO AQVI/ AOS VINDOVROS ESTA MEMORIA.
SML
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Convento de São José |
O Convento de São José da
Esperança, popularmente chamado Convento Novo (por
ter sido a última casa religiosa da cidade), situa-se no Largo
de Avis, freguesia de São Mamede, em Évora.
O Mosteiro, de freiras da Ordem das
Carmelitas Descalças, foi fundado em 13 de Março de 1681 por
duas senhoras eborenses: Feliciana e Eugénia da Silva, tendo
depois o patrocínio do Arcebispo de Évora D.Frei Luís da Silva
Teles.
O edifício, ao mesmo tempo severo e
simples, é tipicamente barroco, sendo a igreja um belíssimo
exemplar da arte da talha dourada eborense.
O convento encerrou as portas em 19
de Outubro de 1886, por morte da última professa (a Prioresa
Maria Teresa de São José), uma vez que a Lei da Extinção das
Ordens Religiosas proibia a admissão de noviças desde 1834).
O edifício (que conserva
praticamente intacta e bem conservada a sua arquitectura
conventual), teve várias utilizações, sendo hoje a Secção
Feminina da Casa Pia de Évora.
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