Causas


#07
 
(PUBLICADO NO DIÁRIO DO SUL)

Arquitecto João Rodeia
CLASSIFICAÇÃO DE ÉVORA EM RISCO

O convidado do Grupo Pro-Évora para intervir nesta sessão sobre o estudo da Parque Expo foi o Professor Arq.º João Rodeia, antigo director do IPPAR e actualmente Presidente da Ordem dos Arquitectos.

João Rodeia começou por assinalar a boa qualidade metodológica do documento, considerando-o neste âmbito credível e competente, propiciador da discussão pública. No entanto, foi de opinião que não são tidos em conta aspectos que julga fundamentais: a condição patrimonial da cidade deveria ser central e a primeira premissa do estudo, ou seja, continuar Évora nos seus valores patrimoniais e a partir deles construir o futuro da cidade; há uma excessiva vontade de «fazer novo» e uma ausência do uso de conceitos como valorização, conservação e qualificação; o conjunto das propostas constitui uma «intervenção pesada» e por vezes «muito intrusiva, dificilmente compatível com a inclusão do Centro Histórico de Évora na lista do Património Mundial»; estas propostas, programadas para os próximos dez anos, não respeitam o «tempo lento» da evolução da cidade, sendo abusivo querer transformar na nossa actualidade uma cidade que se foi construindo num longo processo histórico – «há muito para cuidar antes de fazer de novo», disse. O orador reconheceu que o estudo desenha um modelo de intervenção conforme o pedido da Câmara Municipal.

O Arq.º João Rodeia enunciou, de seguida, «cinco questões genéricas» que, no seu entender, o estudo deveria ter em consideração:

1. A primeira reflexão a ser feita deveria visar o património de Évora, «condição identitária da cidade e de diferença perante outras cidades». Trata-se da mais valia que Évora possui (como foi dito, a «galinha dos ovos de ouro»), que obriga a condicionalismos severos e necessários, que o estudo não acautela.

2. Os habitantes e a habitação constituem a segunda preocupação: «qualquer estratégia de um centro histórico tem que pensar nos habitantes e em novos habitantes». O repovoamento do centro histórico deve condicionar a nova habitação à que já existe («em vez de fazer nova habitação, era melhor cuidar do que existe»), utilizar os fogos devolutos opondo-se à sua terciarização e evitar a especulação de preços de venda e de arrendamento, considerando incompreensível que, nesta matéria, os custos sejam superiores aos de Lisboa, provocando a quase inexistência de mercado de arrendamento em Évora.

3. A terceira questão fundamental diz respeito ao tráfego automóvel – acesso, estacionamento e mobilidade. Não conhecendo nenhum caso de centro histórico onde não haja grandes restrições ao tráfego automóvel, João Rodeia considerou prioritária a dissuasão do trânsito automóvel, criando parques de estacionamento periféricos – «aumentar a carga de estacionamento no centro histórico», como o estudo preconiza, «é uma solução péssima», importando «evitar tudo o que é convite à utilização do automóvel», que deve ser reduzido aos residentes. Relativamente aos previstos prolongamentos de ruas e abertura de outras, no centro histórico eborense, o arquitecto defendeu que não se alterasse a sua estrutura radiocêntrica, afirmando que «só são admissíveis intervenções cirúrgicas».

4. O anel circular às muralhas, que constitui a ligação do centro histórico com a periferia, deverá, na sua opinião, ser ocupado com equipamentos e serviços de “interface”, evitando a criação de mais habitação e a modificação de usos nessa área. Concretamente em relação ao projecto “Docas”, que prevê a instalação de estabelecimentos de diversão nocturna entre a Porta de Avis e a da Lagoa, considerou errada a medida, que deveria antes ser localizada na segunda circular externa, que importa concluir.

5. Finalmente, a quinta questão fundamental: o conhecimento e a cultura devem ser princípios estratégicos, que o estudo não considera. Atrair massa crítica para a cidade seria um importante objectivo estratégico, obrigando à criação de infra-estruturas de acessibilidade tecnológica nas casas e nas ruas e de condições para sediar investigadores, instituições e empresas vocacionados para projectos culturais e científicos, especialmente no centro histórico.

Em jeito de conclusão, João Rodeia considerou que, para casos como Évora, «não há modelos únicos, tem que haver mais estudo, mais análise», sempre partindo da premissa patrimonial.

 

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